Pages

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Sexualidade Feminina, revisão bibliográfica.



   A sexualidade feminina é construída pela espécie e está vinculada á cultura de cada indivíduo. Ela transforma-se ao decorrer do tempo, conforme a sociedade, religião e costumes, não possuindo significado definido. Acredita-se que a cultura domina a expressão da sexualidade, a cultura entendida como síntese das crenças, costumes e pontos de vista.
   A sexualidade se expressa, ou assume contornos, dependendo muito da maneira como homem e mulher vivem na sociedade: o que deve ou não ser praticado por um e outro, ou aquilo que se convencionou atribuir como função ao homem e à mulher. (MOACIR COSTA, 1986, p.30).
    Os papéis sexuais definem o que se deve ou não ser praticado por determinado indivíduo em relação a sua sexualidade. Estes papéis foram construídos e estereotipados pela sociedade, definindo ideais comportamentais para cada individuo, sendo ele homem ou mulher.
    Os denominados papéis sexuais são os grandes condicionantes da desigualdade entre sexos, pois são eles que impõem proibições e permissões sobre atos de um indivíduo em um meio social público ou privado.
    Na história da humanidade, o papel da mulher foi definido pelos homens, que delimitaram sua posição à vida doméstica e familiar. Ela foi reduzida a um ser inferior e submisso ao homem, e quase sempre exercendo a função de ser esposa, mãe e dona de casa, sempre ocupando lugar doméstico.
   Na história em algumas civilizações como no Antigo Egito cerca de 4000 a. C. possuíam cultura matricêntrica, onde homens e mulheres tinham os mesmos direitos, e na maioria das vezes o poder era exercido pelas esposas.
    O papel de mulher submissa não surgiu repentinamente, foi algo que pouco a pouco foi moldado e através da cultura e religião incluiu-se no âmbito familiar.
    À nossa civilização, chamamos judaico-cristã. Nela os preconceitos morais, legais e religiosos tiveram início com o povo Hebreu, a milhares de anos atrás.
    A religião como grande condutor de informações e como forte formadora de convenções sociais, transmitiu a inferioridade da mulher em relação ao homem impondo sua exemplificação em livros sagrados, como a Bíblia.
    No Antigo Testamento a mulher é a segunda na ordem da criação e é feita a partir da costela de Adão, não sendo considerada a imagem e semelhança de Deus. A mulher foi criada apenas com objetivo de ajudar ao homem e lhe fazer companhia.
    [...] para o homem não se achava ajudadora idônea.
   Então o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre o homem, e este adormeceu; tomou-lhe, então, uma das costelas, e fechou a carne em seu lugar e da costela que o senhor Deus lhe tomara, formou a mulher e a trouxe ao homem.
    A mulher através do antigo testamento, também se torna símbolo do pecado e causa dos sofrimentos e males causados ao homem, pois foi ela quem induziu o homem a comer do fruto proibido através de sua sensualidade e sedução.
    “De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás”
    Então, vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, comeu, e deu a seu marido, e ele também comeu. (GÊNESIS 3:6)
   A partir desta interpretação oferecida por determinada religião, a mulher passa a ser vista como um ser inferior e pecaminoso, e ao mesmo tempo o prazer buscado na sexualidade é condenado.
   Passamos então por um longo período latente durante o qual os impulsos sexuais normais têm que ser reprimidos e controlados. (JOSÉ GAIARSA, 1986, p. 44)
   Esta visão sobre a mulher e o sexo, foi repassada durante muitos séculos através da educação sexual que foi sendo transmitida pela família á seus descendentes, tendo grande influência na sociedade atual.
   Temos que ter em mente que, apesar de os valores estarem mudando muito rapidamente, eles demoram gerações para serem reelaborados e vividos de forma diferente. (MARTA SUPLICY, 1985, p 82).
   Uma mãe não passa simplesmente as mensagens da cultura; ela também passa suas respostas ás mensagens que recebeu de sua mãe. Portanto, cada transação entre mãe e filha é num certo sentido uma transação entre gerações. (SIGNE HAMMER, MARTA SUPLYCY, 1985, p 82)
    A família é uma grande condutora de informações aos seus descendentes, é na família que a criança aprende seus primeiros valores sexuais. É a família também quem transmite á criança mitos e tabus perante a sexualidade, contribuindo então para formação ideológica e prática sexual desta, com padrões duradouros de comportamento e sentimentos em relação ao corpo.
    Na família, a educação sexual costuma-se basear no binômio sexualidade/autoridade, pois geralmente é feita de pais para filhos, numa relação de cima para baixo. Frequentemente o discurso sobre a sexualidade é diferente de como ela é vivida pelos indivíduos. (REIS 1991, p. 129). Todos dizem que a encaram como algo natural, normal, voltado para o prazer. Mas ela é vivenciada concretamente com preconceitos, o que provoca insatisfação, temor de culpa. (ANA SEIXAS, 1988, p.176).
    Várias atitudes dos pais podem comprometer a educação sexual de uma criança. Comumente quando uma menina pergunta algo relacionado à questão sexual, os pais fogem da resposta, olham envergonhados e fogem do assunto. Ou o que não é raro, passam sermões e reprimem a manifestação sexual.
   A preocupação da maioria dos pais é proteger suas filhas de uma iniciação sexual precipitada, desta maneira tentam impor seus padrões morais ou normas religiosas. (MOACIR COSTA, 1986, p. 11)
   A iniciação sexual da menina antes do casamento, ainda é vista com grandes preconceitos devido às antigas crenças e tabus da sociedade. Existe ainda a ideologia de que a mulher deve ser guardada e cuidada para manter-se “pura” e intocada enquanto o homem dever obter experiências sexuais para alcançar a maturidade.
   Para moça, a ideia de ter sua primeira relação sexual com o homem que não o seu futuro marido era algo inconcebível e se isto ocorresse ela haveria de “pagar” duras restrições sociais. Seria “moça fácil”, que nenhum homem quereria.
   Já o rapaz deve iniciar a sua vida sexual antes do casamento, o mais cedo possível, para possibilitar o seu amadurecimento psicológico e social. (MOACIR COSTA, 1986, p 31 e 102).
   A mulher ao casar virgem não recebe nenhum preparo para vida conjugal, e muitas vezes não conhece ao próprio corpo. Ela recebe apenas regras e normas morais sobre o que permitir ou fazer para agradar o homem. (MOACIR COSTA, 1986, p 101).
   A mulher reprimida segue as regras e as normas que lhe foram impostas e no momento em que ela acreditar que não está cumprindo estas regras, sentir-se-á inútil.
   Às vezes ainda é possível escutar discursos repressores vindos de pessoas mais tradicionalistas em relação à mulher:
    “Mulher muito oferecida não consegue namorado.”
    “Nenhum homem gosta de mulher mal arrumada.”
    “Toda mulher deve manter sua casa em ordem par manter seu marido satisfeito.”
    “A moça deve ser meiga e recatada para arranjar namorado.”
    Há algumas décadas atrás, a mulher era educada para servir ao ambiente doméstico, ser mãe, esposa, ser dona de casa.
     Beleza, meiguice, docilidade, prestatividade, todas são qualidades para arrumar e segurar um marido. Ninguém falava de virar gente: ter profissão, opinião própria, ter coragem e enfrentar medos e riscos... (MARTA SUPLICY, 1986, p 36).
    Atualmente é percebida uma revolução feminina, pois a mulher vem tomando rapidamente, mais espaço nos ambientes sociais públicos e há uma busca pela independência econômica e igualdade social, mas ainda são diversas as desigualdades existentes na sociedade brasileira.
    Uma das mais evidentes refere-se às relações de gênero e sexualidade, menos relacionada à questão econômica e mais ao ponto de vista cultural e social, constituindo, a partir daí, as representações sociais sobre a participação da mulher dentro de espaços variados, seja na família, na escola, igreja, nos movimentos sociais, enfim, na vida em sociedade. (ORSON CAMARGO, 2012).

0 comentários:

Postar um comentário